Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)
A Igreja no Brasil dedica o mês de agosto ao importante tema das vocações. Cria-se, pouco a pouco, uma cultura vocacional em todas as regiões, redescobrindo a graça do olhar de Deus sobre cada pessoa, com o selo precioso do Batismo, com o qual se inicia este magnífico processo de resposta ao amor do Senhor. Sabemos que não existe cristão sem uma vocação, um chamado a ocupar o seu lugar na Igreja e contribuir com a própria vida na edificação do Reino de Deus. Trata-se então de aproveitar este tempo favorável às vocações para identificar os passos necessários ao caminho a ser percorrido, com lucidez e confiança na graça de Deus.
Para contribuir com a desejada “Cultura Vocacional”, neste mês, serão colocadas em relevo várias vocações: o Matrimônio, com o Dia dos Pais, neste ano celebrado no dia onze do mês corrente e a Semana Nacional da família; o ministério presbiteral, com o Dia do Padre, quatro de agosto, Festa de São João Maria Vianney, o Cura d’Ars; os Diáconos, contemplados com a Festa de São Lourenço, dez de agosto; na Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, a ser comemorada no dia dezoito de agosto, a vida religiosa e as diversas formas de consagração e dedicação a Deus; o domingo vinte e cinco de agosto será dedicado à vocação dos Catequistas e as diversas formas de serviço laical na Igreja.
Ponto de partida é justamente a fé, com a qual temos a certeza de que o Senhor nos ama de modo pessoal, direto e exclusivo. Ninguém se sinta excluído de tal olhar de Deus. Há um lugar na Igreja para cada um de nós, e só Deus pode preferir cada pessoa sem excluir as outras, quando em nossa sociedade e às vezes também dentro da Igreja, infelizmente pensamos que preferir alguém significa desprezar quem quer que seja. Sejamos, pois, capazes de professar de novo a certeza de que Deus tem a ver com nossa vida nesta terra, não nos deixando jogados à sorte! Com a certeza da fé, vem o encontro com o mistério da liberdade humana. É bom conferir o que diz o Senhor: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a salvará” (Lc 9,23-24).
Trata-se de uma escolha que define o rumo de uma vida. Quem quer seguir o Senhor haverá de decidir-se por transformar a sua vida em amor a Deus e ao próximo, sair de si mesmo. Hoje se fala tanto de maturidade humana como um estilo de vida, um modo de ser que nos torna capazes de cumprir com serenidade e com satisfação a própria missão, sem perder o equilíbrio diante de dificuldades mesmo graves que se encontram no decorrer da vida. A pessoa possui uma personalidade harmoniosa na medida em que sabe viver pelos outros e com os outros. Quando a pessoa alcançou um equilíbrio ao menos suficiente e sabe sair do próprio egoísmo para doar-se, então é uma pessoa livre e se encontra nas condições normais para aceitar o chamado de Deus. Podemos dizer que ele tem a pureza no sentido evangélico. Pode por isso descobrir e colocar em prática o plano de Deus na sua vida. “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus’’ (Mt 5,8). Não é difícil perceber o quanto devemos caminhar na Igreja e na Sociedade para que as opções sejam feitas com maior maturidade!
Depois virão os outros passos. Quem sentiu o desejo de dar a própria vida no matrimônio, formar uma família sadia, deverá abrir os olhos e o coração para identificar a pessoa com a qual compartilhará toda a sua existência, com a graça de um Sacramento que só pode ser recebido “a dois”, o homem e a mulher que oferecem e consagram seu amor ao próprio Deus, tornando-se então sinal do amor de Cristo e da Igreja, preparando-se adequadamente para tal entrega. Ninguém será proprietário ou proprietária de seu cônjuge, mas terá encontrado a quem consagrar e doar a própria vida!
Quem sentir o chamado ao Sacerdócio, à Vida Religiosa e Consagrada, no Celibato, na Virgindade e na entrega radical, deverá necessariamente entender a vida como saída de si mesmo, o que exige clareza de discernimento e dedicação ao caminho a ser percorrido. Tanto quanto as pessoas chamadas ao Matrimônio, também aqui haverá de se entender a vida como saída de si mesmos para o serviço de Deus e do próximo, nas diversas formas inspiradas pelo Espírito Santo. A Virgindade e a Fecundidade de Maria serão preciosas referências para tal escolha!
E aqui cabe recordar a belíssima vocação do Diaconato Permanente, quando a dupla sacramentalidade do Matrimônio e da Ordem faz com que muitos homens acolham o chamado de Deus, para o prioritário serviço da caridade aliado à Palavra de Deus e ao Altar!
No entanto, já é bastante claro que todos os homens e mulheres que vivem a fé cristã deverão fazer um percurso semelhante. Vale como exemplo sugerir aos jovens que incluam, em primeiro plano, em seus projetos de estudo e profissão, perguntar-se como lhes será possível doar a própria vida, indo além dos interesses financeiros ou de posições na sociedade.
E nas Comunidades Cristãs, a cultura vocacional pedirá que todos se perguntem e se provoquem positivamente sobre a missão a ser assumida. Cresce entre nós o Ministério da Palavra, o Ministério Extraordinário da Comunhão Eucarística, assim como o Ministério de Catequista. Muitas pessoas dedicarão a vida ao serviço da caridade, desenvolvendo sensibilidade apurada diante dos problemas sociais. E esperamos que venha mais à tona a vocação laical de presença nas estruturas do mundo, ajudando a fermentá-las com a força do Evangelho, para que cresça o Reino de Deus.
Enfim, desejamos que os pais e mãe incluam na formação dos filhos a pergunta sobre o que Deus espera de cada um deles. Se assim acontecer nas famílias, esta desejada cultura vocacional fermentará nossas Comunidades Cristãs, pois a Messe é grande! Rezemos, pois, para que o Senhor da Messe envie operários para este magnífico leque de possibilidades para as pessoas viverem no amor a Deus e ao próximo!
Fonte: CNBB