Igreja Matriz de Santa Efigênia
Nillo da Silva Neto[1]
Tendo em vista a criação do site da Paróquia Santa Efigênia, em uma das partes que é dedicada ao histórico desta Igreja, foi realizada uma recensão da obra de Myriam Oliveira e Adalgisa Campos: “Barroco e Rococó nas Igrejas de Ouro Preto e Mariana”, compreendidas entre as páginas 19-25, que é dedicada à Igreja de Santa Efigênia.
Um primeiro aspecto necessário de ressaltar é o motivo pelo qual numa Paróquia de Santa Efigênia, no altar-mor, consta no trono principal a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Para entender isso vamos às origens, pois antes, esta que hoje é a Igreja de Santa Efigênia era a Capela de Nossa Senhora do Rosário, construída pela irmandade do mesmo nome, que congregava os escravos africanos da freguesia de Antônio Dias. Instituída na Matriz da Conceição, em 1719, a irmandade ocupou inicialmente a Capela do Padre Faria, de onde saiu para estabelecer-se em igreja própria a partir de uma dissensão ocorrida com os irmãos brancos que dela participavam. As obras de construção e decoração desta capela, iniciadas por volta de 1733, só chegaram à conclusão definitiva cinquenta anos mais tarde, como registra a data de 1785, inscrita na cruz que arremata o frontão. É possível apontar que o risco seja de Manoel Francisco Lisboa, cujo nome aparece com frequência na documentação da igreja. O inovador desenho da fachada é, entretanto, de outro mestre português, Manoel Francisco de Araújo, que também completou a fachada da outra Igreja do Rosário na freguesia do Pilar.
Um nicho com a imagem em pedra da padroeira acolhe o visitante no centro da portada, cuja base consta a data de 1762, tendo sido provavelmente executada pelo entalhador Jerônimo Félix Teixeira. Por trás do nicho há um óculo trilobado acima do qual a cornija movimenta-se em semicírculo, introduzindo uma nota dinâmica, própria do barroco, à composição do frontispício da igreja. Na parte interna, a mesma movimentação da cimalha acima do arco cruzeiro integra visualmente as linhas arquitetônicas do edifício à sua decoração interna. Executada entre 1747 e 1791, compreende, além da talha e pintura da capela-mor, quatro retábulos e dois púlpitos na nave, recoberta por um extenso forro em pintura de perspectiva. Toda essa decoração insere-se no período joanino do barroco mineiro, com características marcantes das oficinas de Braga. São, com efeito, procedentes da região de Braga, tanto o pintor Manoel Rabelo e Souza, autor da pintura do forro da nave da igreja, quanto os entalhadores Felipe Vieira e Jerônimo Félix Teixeira, que executaram a talha da capela-mor.
Segundo os estudos, possivelmente, Francisco de Barros Barriga foi responsável pelo risco dos dois primeiros retábulos da nave. Datados de 1747-1748, esses retábulos são semelhantes aos da nave da Matriz de Antônio Dias, com colunas torsas e quartelões povoados de anjinhos e coroamento em dossel. O da esquerda é dedicado a Nossa Senhora do Carmo, cujo símbolo aparece na tarja superior. Na base do trono está Santa Bárbara com sua torre. No altar da direita, outra devoção de grande apelo popular, Santa Rita, advogada das causas difíceis e desesperadas.
Executados tardiamente, em 1790-1791, os retábulos do cruzeiro parecem cópias diretas dos similares da Capela do Padre Faria. Seus padroeiros são os santos negros São Benedito e Santo Antônio de Cartegerona (Noto), cujos nomes estão inscritos no fundo dos camarins. O principal interesse nessa igreja é a rica decoração da capela-mor, que integra em surpreendente harmonia obras de artistas diferentes. A talha do retábulo, executada pelos entalhadores bracarenses mencionados, inclui esculturas de anjos de outras mãos, notadamente Francisco Xavier de Brito, autor da talha da capela-mor da Matriz do Pilar. Ou, ainda, José Coelho de Noronha, ao qual podem ser atribuídos os belos anjos do coroamento.
Por fim, a pintura do forro com os quatro doutores da Igreja é possivelmente de João Batista de Figueiredo. Executada em fins do século XVIII, já no período rococó, essa pintura, bem como a da sacristia, é de qualidade superior à do forro da nave, inserida no ciclo barroco da pintura de perspectiva em Minas. No camarim do retábulo estão as duas padroeiras, Santa Efigênia e Nossa Senhora do Rosário, e os nichos laterais de São Camilo de Lélis, à esquerda, e Santo Elesbão, à direita, completando o devocionário de santos negros.
A Igreja de Santa Efigênia é um dos cartões postais da cidade de Ouro Preto, ganhando destaque sua deslumbrante escadaria em pedra que compõe seu conjunto arquitetônico. No decorrer do século XIX, a igreja passou por obras de reforma e restauração. Segundo o IPHAN, na década de 60 deste século, foram realizadas obras de restauração que consistiram na remoção das repinturas sucessivas e recuperação da pintura original dos painéis laterais da capela-mor e dos forros da capela-mor, corpo da igreja e sacristia, as quais haviam passado por repinturas em reformas anteriores. A última restauração foi concluída em 2014, reaberta, depois de 6 anos. Foi um feliz momento para todos que carinhosamente a chamam de Santa Efigênia do Alto da Cruz, pois se localiza ao final de uma extensa ladeira. Assim, A planta da igreja de Santa Efigênia pode ser considerada como uma simplificação da planta tradicional, visando à obtenção de formas mais elegantes e funcionais. Igreja de Santa Efigênia, um templo que se destaca e que atraem a tantos, não apenas pela devoção à padroeira, mas também pelo acolhimento arquitetônico, pequena em tamanho, mas enorme pela fé dos fiéis que prezam pelo cuidado e utilização do espaço sacro.
OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de; CAMPOS, Adalgisa Arantes. Barroco e Rococó nas igrejas de Ouro Preto e Mariana. Brasília, DF: Iphan / Programa Monumenta, 2010.
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[1] Seminarista do Seminário Arquidiocesano São José. Cursando 3ºano de Teologia. Pós graduando em História da Arte Sacra, na Faculdade Dom Luciano Mendes.